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Belém – o melhor de Lisboa?

11 de maio de 2009
Padrão do Descobrimento, ponte 25 de Abril e o Tejo lindo

Padrão dos Descobrimentos, ponte 25 de Abril e o Tejo lindo

Daí que na noite anterior eu fui a uma festa do pessoal do Couchsurfing. Era *a* noite de lua cheia daquele mês, e a Aoife, uma irlandesa que mora em Lisboa, resolveu abrir as portas de sua casa para vermos a lua e celebrarmos nada em especial além da oportunidade de estarmos juntos, falando português, espanho, portunhol, spanglish, inglês e tantas outras línguas. A festa foi ótima, no 26o. andar de um prédio no Parque Vasco da Gama das Nações, com a lua deslumbrante refletindo no Tejo, e eu não podia acreditar que havia um lugar melhor do que o “aqui e agora”. Mas daí Ricardo, um lisboeta muito do bacana, me perguntou: “já foi à Belém?” E depois do meu “ainda não”, ele disse em um tom de voz mais baixo, como se estivesse contando um segredo: “é o melhor de Lisboa”.

Confesso que eu não botei muita fé, porque tinha visto a Torre de Belém do trem quando fui para Cascais e não tinha achado grandes coisas. Mas é claro que eu iria lá conferir. E assim fiz, em plena Sexta-Feira Santa: fui até o Cais do Sodré e lá peguei o tram para Belém. Eu, minha mãe e mais muita, muita gente. Era feriado, e tinha gente da Europa toda passeando por Lisboa.

Descemos em frente ao Mosteiro dos Jeronimos e a fila estava imensa. Deu até um desânimo. Daí enquanto esperávamos na fila, começou a chover. IMAGINE quão felizes estávamos.

Sol e chuva, casamento de viúva

Sol e chuva, casamento de viúva

Mas enfim, a fila andou, como sempre anda, e nós conseguimos entrar no Mosteiro. E ainda bem que nem passou pela nossa cabeça desistir, porque cada minuto sob a chuva passando frio vale a pena quando você dá de cara com o claustro. Eu achava, na minha ignorância, que claustro era uma coisa escura, fechada, úmida e CLAUSTROfóbica. Qual não foi minha surpresa ao conhecer o claustro do Mosteiro dos Jeronimos?

Eu JURO que minutos antes estava chovendo

Eu JURO que minutos antes estava chovendo

UAU. Uau. É lindo de chorar. Esse estilo arquitetônico, que lembra os castelos de areia toscos que eu fazia em Peruibe quando era criança (hahaha) é chamado manuelino e aqui vocês podem saber mais sobre ele. As coisas são muito cheias de detalhinhos e formas e dá para passar minutos olhando uma fachada ou uma coluna e ir identificando os elementos. Rostos, sereias, frutas, cordas, anjinhos, é uma profusão de coisinhas, muito lindo.

Bom, entre as coisas que você pode ver no Mosteiro, além do próprio prédio que é de chorar, está o túmulo de Fernando Pessoa, transferido pra lá em 1985. É bem bonito e emocionante, porque é um bloco de pedra retangular, e em três lados há trechos de poemas dele – na real um do Ricardo Reis, um de Alberto Caeiro e um de Alvaro de Campos. Muito bonito.

A foto ficou uó, pessoalmente é bem mais bonito

A foto ficou uó, pessoalmente é bem mais bonito

NÃO BASTA abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
20.4.1919 – Alberto Caeiro.
PARA SER GRANDE, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
14.2.1933 – Ricardo dos Reis.
NÃO. NÃO quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
1923 – Álvaro de Campos

Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
20.4.1919 – Alberto Caeiro

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
14.2.1933 – Ricardo dos Reis

Não. Não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
1923 – Álvaro de Campos


Além do Fernando Pessoa, os túmulos de Vasco da Gama e Luis de Camões também ficam no Mosteiro dos Jeronimos. É para lá que vão os grandes homens de Portugal, ser enterrado no Mosteiro dos Jeronimos é honra das honras, você vai ver pelo menos uma meia dúzia de túmulos, para quem curte história é bem interessante. Daí, como parte desse “complexo” tem também um museu arqueologico e um museu da Marinha, mas esses eu não vi.

E daí tem a igreja, né? A igreja deve ser visitada em qualquer dia, em qualquer época, porque ela é imensa e linda e lá que estão os túmulos do Vasco da Gama e do Luis de Camões. Mas lembra que eu disse que era Sexta-Feira Santa? Bom. A gente passou pela igreja, garantiu para o “porteiro” que não éramos turistas, mas sim católicas fervorosas que queriam rezar, e tivemos o privilégio de assistir a um pedaço da Celebração da Paixão de Cristo. Com cantos. Numa igreja fantástica. Nessas horas dá até vontade de ter religião, mas a vontade passa logo ;)

Bom, saímos da igreja e fomos almoçar. O frio pedia um caldo verde, fomos em um restaurante simples e gostosinho nos arredores do Mosteiro. De sobremesa, claro que fomos comer pastéis de Belém. Sério, gente. Acredite no hype e enfrente a fila (anda rapidinho, juro, eles são agilizadíssimos): pastéis de Belém são reconfortantes, são gostosos, são tipo um abraço quentinho em forma de doce. Crocantes por fora, cremosos por dentro… compre e coma quantos você puder, porque depois você vai sentir saudade – eu senti e sinto até hoje.

Alimentadas e descansadas, continuamos nossa caminhada. Tem um jardim lindo demais entre o Mosteiro e a Torre de Belém, então nem pense em pegar o tram para chegar na Torre: ande pelos jardins, vale a pena e você ainda vai poder tirar fotos lindas. Aqui, como em Cascais, é um lugar muito legal para alugar uma bicicleta e passear.

bicis
Você anda, anda, passa pelo Centro Cultural de Belém (ou CCB. Parece ser ótimo, mas eu não fui) atravessa a rua por uma passagem subterrânea (fique esperto e de olho nas placas!) e chega no Padrão dos Descobrimentos, um monumento realtivamente moderno (é de 1960) que homenageia os grandes heróis dos descobrimentos. É mais bonito “pessoalmente” do que nas fotos, e dentro dele tem um museuzinho mas eu não tive vontade de entrar. No chão tem uma rosa dos ventos e um mapa com as antigas colônias de Portugal, tá lá nosso Brasil. Bom, é o monumento que aparece na foto lá do começo do post.

Daí é só seguir andando mais um pouco em direção à Torre de Belém. A gente foi pela beirinha do Tejo, pode ser que você encontre gente pescando, e no fim da tarde vale sentar na margem pra ver os pássaros comendo peixinhos e os barcos – de veleirinhos à transatlânticos – passando. Tem sempre bastante gente por lá, o clima é uma delícia.

Namorinho na beira do Tejo. Invejei um pouco

Namorinho na beira do Tejo. Invejei um pouco

Bom, daí você finalmente chega na Torre de Belém! Ela é linda, linda. Foi construída numa ilha do rio, mas agora fica na margem mesmo, com as águas do rio cercando só por um lado. Servia para defender Lisboa de ataques pelo mar (porque o Tejo deságua no mar logo ali), e também é em estilo manuelino, como o Mosteiro. Bom, a visita toda é demais, desde o pátio com os canhões até todas as salas, a primeira imagem de um rinoceronte na Europa (éééé!), a vista do alto da torre… vale muito a pena. Mas vá com paciência, as escadas pra subir e descer das salas são muito estreitas, rolam congestionamentos e dá um pouco de aflicão se espremer naqueles degrauzinhos. Só que é imperdível.

Ela é mais linda pessoalmente

Ela é mais linda pessoalmente

Daí uma dica que eu nem precisava dar, porque você faria isso de qualquer forma. Mas eu vou falar mesmo assim. Quando você chegar lá no topo da torre, vai ver todo o bairro de Belém, lindo, e bem aos pés da torre, um gramadão. O que você vai fazer quando descer da torre? Brincar de europeu e deitar e rolar no gramadão, claro.

Isso que é vida :P

Isso que é vida :P

Daí sim, deitada, olhando pro céu azul, vendo barquinhos passar, eu cheguei à conclusão que o Ricardo estava certíssimo. Belém deve ser mesmo o melhor de Lisboa. Tanto concordei com ele, que foi para lá que eu voltei no último dia de estadia em Portugal. Para me despedir da cidade no seu melhor lugar. E na beirinha do Tejo :)

Ah, Belém... um dia eu volto :)

Ah, Belém... um dia eu volto :)